terça-feira, 26 de abril de 2011

TARGINO MACHADO. O POLEMICO.

De volta à Assembleia Legislativa após quatro anos de recesso forçado, já que não foi reeleito, o deputado estadual Targino Machado (PSC) não perdeu a intimidade com os microfones e vem se destacando como principal voz da oposição ao governo Jaques Wagner dentro do parlamento baiano. Para Machado, o papel de quem está na oposição é jogar para a plateia enquanto o do governo é jogar com o placar. O deputado ressalta a importância do bloco independente para participar das decisões e acordos entre bancadas. Nesta entrevista, Machado, afirma que a forma de agir do “carlismo” nunca esteve tão viva dentro do PT. Diz ainda que não existe oposição na atual legislatura. O parlamentar tece elogios ao deputado petista, Paulo Jackson, morto em 2001, e reforça a importância de ter mais representantes que dominem o regimento interno e que queiram fazer oposição de fato. De acordo com Machado, é preciso que mais gente trabalhe para levar a imprensa para dentro do plenário. “Precisamos sacudir esta estrutura aqui para sairmos desta mesmice”, propõe.

Como é que o senhor avalia este começo de legislatura na Casa, levando em conta a composição dos blocos que atuam o da maioria, minoria e independentes?

Eu retornei a esta Casa depois de um recesso de quatro anos, não de fazer política, mas recesso parlamentar e encontrei esta Casa extremamente modificada. A primeira grande diferença é a estrutura que um deputado tem hoje para exercer o seu mandato. Temos reais condições de trabalho aqui. Deputado hoje tem estrutura de alto executivo de grande empresa. Estrutura de gabinete, de verbas indenizatórias, podendo pagar consultoria jurídica, contábil, pode contratar profissionais de imprensa. Além de toda a rede que está bem diferente de quatro anos atrás.

Deputado hoje só não trabalha se não quiser?

Só não trabalha se não quiser e o verbo querer aqui nesta Casa é um verbo pouco conjugado. A gente vê a falta de ânimo da oposição para fazer oposição. No dia em que obstrui a pauta, não estava fazendo nada de mais, eu só estava exercendo o meu papel e não mereço elogio por isso. Eu estava lá mesclando discurso com ironia, e a ironia era para evitar irritação, a indignação, e eu não fui acompanhado por nenhum deputado da oposição. Quando um deputado da oposição chegava até mim na tribuna eu pensava que era para me trazer ânimo, estímulo, mas não, era sim para me dar pressa. Não existe isso. Então, eu estou com saudades do tempo em que o PT era PT, partido de defesa dos movimentos sociais. Fazer oposição junto com o PT, PCdoB, PSB, como eu fiz outrora, inclusive o PSDB que também fazia oposição com o seu representante maior que era Marcelo Nilo (atualmente no PDT) e o Arthur Maia (atualmente no PMDB). Era uma outra forma de fazer política, aqui com 15 ou 16 deputados nós parávamos esta Casa. As pessoas achavam que era uma luta inócua, mas não era, o fruto desta luta é que nos trouxe diversas conquistas.

A culpa é da bancada da maioria?

O bloco governista atual está igual ao DEM quando era PFL. Porque só mudou a sigla, mas o principio é o mesmo. É de que nada mais parecido com o governo do que a oposição quando vira governo. Hoje, o PT está fazendo aqui na Casa, junto com o PP, eu nem queria aqui me referir muito ao PP, porque o PP é chapa branca, seja quem for governo ele será governo, inexoravelmente. Se passar dias na oposição é preparando terreno para ser governo.

O que mais lhe inquieta na forma de condução dos trabalhos pelo governo?

Eu tenho a convicção de que mais importante do que 10 deputados do governo é um que se dispõe a fazer oposição. Porque não espera nenhum avanço do trabalho de 10 deputados do governo, porque o governo será governo independente dos seus deputados. A bancada do governo é a bancada do amém. Deputado de oposição vai na ferida, vai no vespeiro, coloca o dedo na ferida.

Se fala muito em oposição responsável no Brasil. O que significa este termo na prática?

Por causa deste conceito de oposição generosa e tal e coisa é que o ex-presidente Lula não sofreu um impeachment há seis anos quando implodiu o mensalão. Porque o PSDB podia ter usado isso, mas preferiu levar o argumento para a campanha e se deu mal. Oposição é oposição, não existe esta coisa de meia oposição. A oposição é para votar contra, é para discutir, para provocar, é para ser chata mesmo. Uma historinha. Eu tenho um vaqueiro lá na minha propriedade que me disse algo uma vez e eu não esqueci nunca. Ele disse: toda fazenda grande precisa de um cavalo manso para gente montar e pegar os outros e um doido, que é para quando o dono chegar a gente contar as barbaridades todas que aconteceram na sua ausência. Então, este doido que a fazenda precisa ter é o deputado que é necessário ter, que o povo precisa ter, o povo precisa eleger mais chatos para esta Casa aqui. O deputado Paulo Jackson era um deputado chato, aguerrido.

Dizem que ele era regimentalista, que conhecia o regimento do começo ao fim e atuava citando ele na ponta da língua. Existe alguém aqui nesta legislatura que conheça bem o regimento?

Poucos deputados conhecem o regimento da Casa. Pior é que parece que ninguém está disposto a estudar.

O que está sendo feito de substancial na Assembleia Legislativa. Há quem diga que atualmente o legislativo vem atuando como homologador dos projetos do Executivo, como está isto?

Para começar, esta história de aprovar projeto de deputado é falácia. Projeto de deputado não é para ser aprovado. Eu não estou aqui para aprovar “Dia do Jazz”, “Dia da Lambada”, “Dia da dança do ventre”. Projetos razoáveis têm alguns, mas quando são razoáveis são inconstitucionais porque geram despesa para o governo do estado. A gente precisa ter aqui a coragem cívica de mudar a constituição do estado. Uma Proposta de Emenda Constitucional (PEC) para mudar isso. Dizia o PT que não fazia esta mudança porque o “carlismo” não deixava. Carlismo este que está mais vivo que nunca no seu modo de fazer política.

O que senhor enquanto legislador pode fazer para mudar este cenário?

A única coisa que se pode fazer aqui é bater, é denunciar. Eu não quero proselitismo, o que eu quero é produzir efeito e a gente só consegue isso chamando atenção e mostrando as mazelas do governo. Nós só conseguiríamos fazer isso com eficiência se tivéssemos 12 deputados aguerridos, com esta quantidade de parlamentares nós conseguimos 13h de obstrução por projeto.

Como é que esta questão está sendo tratada dentro das bancadas da minoria e independente?

Eu tenho levado aos pares e levo para todas as sessões, mas termino sempre irritado. Nós somos golpeados, chego cedo sou o último a sair, e a gente vê o líder da oposição (Reinaldo Braga, PR) entregar de bandeja. Sei lá, é por preguiça? É por falta de tesão? De vontade? Eu não sei.

Mudando de assunto rapidamente. Por que o senhor foi contra o projeto da deputada Luiza Maia que acabava com o voto secreto? O senhor não acredita que o voto secreto compromete a máxima da transparência?

Este é o discurso fácil da deputada Luiza Maia, que perdeu uma bandeira e agora quer hastear outra, que é a da tribuna livre na Assembleia. O voto aqui é aberto. A práxis do voto é aberto, o voto secreto é a exceção, e a exceção que foi trazida pela Constituinte e que visa a proteção da população. Porque nas contas do governador qual é o deputado da base aliada que vota contra o governo?

Mas isto não levanta a questão também de que todo voto aberto é viciado?

O voto aberto em determinadas circunstâncias pode ser viciado pelo poder econômico, político. Então, tira a independência do voto. A nossa democracia não é direta, ela é indireta. Vamos acabar com o proselitismo e com a pirotecnia. Os deputados foram eleitos pelo o povo e se aqui tem merda, tem ladrão, é porque na população tem isso tudo e aqui vai ter seu representante. O dia em que a gente tiver 100% da população responsável, comprometida e que não vende o seu voto, a gente vai ter outro tipo de representante aqui. Cada estado tem o a Assembleia que merece.

O senhor acredita que o Legislativo baiano é muito fraco?

Eu lamento, mas está fraco. Há alguns anos ouvi do ex-deputado Luís Eduardo Magalhães que o parlamento é o inverso de um bloco de carnaval que existia em Salvador. O bloco chamava “Para o ano sai melhor” e o parlamento é “Para o ano sai pior”. Ele dizia que cada legislatura era pior do que anterior, e pelo o que eu tenho visto ele tinha razão.

Isto é reflexo de quê?

O interesse econômico está sobrepujando tudo. Meu filho de 27 anos, que é advogado, me disse um dia: "Painho, para com isso, acorda. Ninguém está a fim do bem da Bahia e do Brasil. O senhor fica nesta brigando, se desgastando, roendo unha por causa de amor à Bahia". Como eu gostaria que o espírito de Paulo Jackson me orientasse, me desse força para eu tentar convencer a oposição a fazer oposição.

Porque você não ficou no bloco da oposição, preferindo encabeçar a bancada independente?

Quem lançou a bancada independente na Assembleia fui eu, na 15ª legislatura. Eu descobri isso, amadureci e lancei. O PMDB tinha apenas dois deputados na época, eu fui ser líder e requisitei o direito de ser independente. Nada passa nesta Casa, nenhum acordo pode ser feito sem o meu crivo. Na oposição, liderado por Reinaldo, eu ficaria louco.

O senhor disse em plenário que muito deputado vendeu o peixe barato e agora está arrependido. Isto veio acompanhado de uma crítica à cooptação por parte de setores governistas. Como é que o senhor analisa esta situação?

Agora tem gente se rebelando, porque percebeu que poderia cobrar mais pelo peixe. Já deram o primeiro sinal de insatisfação, provavelmente, qualquer dia desses virá o segundo e depois o terceiro, até o governo se quedar. Se o governo não se quedar a oposição vai aumentar. Para a oposição aumentar, os dissidentes do governo precisam compreender que existe oposição.

O senhor não acredita que hoje haja oposição na Casa?

A gente não está tendo oposição. Eu já falei com Paulo Azi, com Elmar Nascimento, com Bruno Reis, com todos sobre a necessidade de obstruir.

O recurso da obstrução serve para quê? Para mexer com a opinião pública, para mudar o projeto?

A primeira coisa que a oposição precisa fazer é trazer novamente para dentro da Assembleia a imprensa. No passado nós tínhamos quatro jornais cobrindo o dia a dia aqui dentro. Não há noticiário, o legislativo deixou de ser interessante. A falta de notícia política. Esta Casa está contaminada pela mesmice, a gente precisa jogar uma bomba aqui dentro, precisa acontecer alguma coisa de muito importante para sacudir o juízo desta turma aqui, e eles entenderem que está errado. O governo está certíssimo. A bancada de governo está fazendo seu trabalho. Governo joga com o placar e a oposição, que tem o papel de jogar para a platéia, vem abrindo mão de falar com a população. Se o deputado de oposição não fala com a platéia, ele não atrai a atenção da imprensa, dos jornalistas. A intercessão entre os deputados e o povo é a imprensa. Só existem três formas de político aparecer na mídia. A primeira, é absolutamente escrota, mas existe, que é pagando. A segunda, é trabalhar e se tornar fonte dos jornalistas. E fazendo besteira também. Dá um trabalho retado, você estudar, trabalhar para virar fonte, mas é o caminho de quem escolhe fazer oposição.